FELIZ DIA DOS PAIS PRO SENHOR, PAI QUERIDO!
PRAÇA TIRADENTES - CURITIBA-PARANÁ-2012-
FOTO DE FATIMA ABRÃO (CELULAR).
Aqui nessa praça , na década de sessenta, até meados da década de 70 ,
vi muitas vezes meu pai sentar-se em terno e gravata e chapeu "Ramenzoni", para conversar com seus patrícios, esmiuçando um pedaço de rolo de fumo
comprado na Casa do fumo, na Saldanha Marinho; as vezes, em outros armazens do centro da cidade...
Eram comerciantes de lojas e casas de frutas e outros mantimentos, ou de tecidos e roupas; meu pai tinha um bar na década de 50 , quando eu ainda era pequena- até meus 4 anos de idade , mais propriamente.
Tratava-se de um elegante salão de bilhar ali na frente da praça , com 8 mesas de jogo , onde se reuniam os homens da sociedade , trajados de terno e gravata e chapeu tambem, e onde meu pai tornava o ambiente alegre e buliçoso com sua gargalhada típica, e seu talento na flauta árabe- que tocava quando menos se esperava... melodiosa e lindamente, naqueles lamentos orientais , de cuja saudade doi o coração... pelo sublime e saudoso sentimento que ele devia nutrir de sua aldeia - Dreikiche, na Syria , e de sua familia que ficara toda lá- salvo dois primos que como ele migraram para o Brasil na década de 40.
Minha mãe fazia companhia , coxinhas e quibes , para vender ali, no bar do Snook... como era chamado... e tambem o almoço e outras refeições para nós que ficávamos por ali... Meu mano mais velho - ajudava no caixa quando não estava na escola e eu, pequena inda brincava por ali, com as panelas de minha mãe, recebia agradinhos de pirulitos dos habituês do lugar, saia para passear com meu pai nas lanchonetes de patricias onde havia sempre um pequeno kibe a ser frito para eu comer quentinho naquela hora ...!
Mas a praça Tiradentes foi sempre, mesmo depois de que vendesse o bilhar, um ponto sagrado de encontro de seus amigos onde trocavam vozerio de alto e bom som ...
discutindo coisas de suas terras... pois haviam entre eles, iranianos, iraquianos, syrios e libaneses, para os quais a história de seus países era motivo de assunto o tempo todo..
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As gargalhadas eram comuns pois não conheci pessoas mais alegres e faceiras com a vida do que esses árabes tão trabalhadores e tementes a Deus - pois todos muçulmanos , e por ali sempre com seus rosários a rodar nas mãos, mostravam sua conecção com o Alah, Clemente e misericordioso...retirando -se para rezarem cinco vezes por dia...!
A vida de trabalho fazia que meu pai aceitasse as circunstancias com humildade e fervor - sendo mal sucedido no comercio, voltando-se para o trabalho de hidráulica num tempo em que os canos eram de chumbo e ferro e sua oficina no quintal de casa...um mar de ferramentas pesadas em que se envolvia muito tempo quando não estava na rua a serviço em algum prédio onde fazia manutenção ou em alguma casa onde colocava calhas , ou , ou...
Sempre o ouvi denominar -se um operário. Sempre o escutei fazendo críticas ao injusto governo onde quer que estivesse acontecendo a injustiça e por isso mesmo , sua terra era alvo de seu olhar permanente uma vez que lá ficaram seus familiares todos. Era sabido que ele enviasse de tempos em tempos , pelas mãos de algum patrício que viajasse para lá algum montante de recursos - os quais economizava arduamente em sacrifícios de vaidades pois conheci apenas dois ternos dele em seu guarda-roupas - : um marron e um azul marinho, ambos cortados e costurados , é verdade , no melhor alfaiate de Curitiba, pago em vezes... mas bem vestido...!
O modelo do sapato era sempre o mesmo. E quem o engraxava era o filho, depois eu ...assumi a obrigação com gosto e carinhosamente...Ele tão elegante que era capaz de nos fazer parar e abaixar-se para nos amarrar os sapatos pois considerava muito feio o desleixo da aparência...!
Posso dizer que é no profundo de minh'alma intraduzível a maneira honesta de ser para comigo, que meu pai desenvolveu, a ponto de que me penalize muito que para com seus outros filhos tenha sido tão arisco e diferente... e de que minha vida ficou mesmo sem chão em não poder partilhar com ele mais momentos... pois não me senti respeitada assim como por ele... com tantas pessoas na vida!!
Um artista, apesar de querer ser identificado como um operário, foi um pequeno homem de pouco mais de metro e meio de altura; mas para mim de estatura ainda maior que a de muitos mais grandinhos na minha familia...
Amou, e amou muito na medida do seu coração, fez grandes reavaliações de seu passado, recompôs diante de todos sua dignidade e vamos amá-lo
muito e para sempre... com profunda saudade de sua elegância, de sua risada e de seus apelos melodramáticos dizendo estar doente e precisando muito de ver um de seus filhos com urgência... por estar morrendo ...
de saudade!
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