COTIDIANOS
I-Num bom dia
acordar e num dia de sol
olhar para dentro do quarto e dizer
um bom dia
se há tanto por fazer
bem que eu podia esquecer
e sair e ter apenas
um bom dia...
mesmo pensando a revelia
da dor de não ter uma escolha
desperto e saio
andando olhando bem ligeiro
há um estreito vão
entre o muro e a rua
vivo pensando que não há escuro
pode ser iluminado por fagulhas
de um olhar
pode ser apenas uma miragem de vagos
e tardios lances de uma pobre tarde
em que nem nuvem nem país
nada importava porque era tarde
tarde mesmo
muito real e finda tarde
nem sei se poderia
ter sonhado com um bom dia
não quiz fazer disso
um drama
assim
sair como todo mundo
em todas as direções
qualquer uma
pode ser que nem escolhida
apenas seguida
cooptada
oprimida
e furtada de uma vida
II Premio do dia-
Uma roleta que gira
um número
só um vai dar
um premio
um premio do dia
parar de girar não pode
sua missão
sim é para girar todo dia
em busca de dar a alguem
um premio
para ser vida
de rei
uma vida importante
de um premio que vem
pode tirar tudo num horizonte
bastante longo de escolhas
mas quem quer só o premio
da roleta que gira?
quem sabe num dia uma vida de escola
batida de lei e obrigações
regras e perfis
planos e escalões
parteira de cidadãos
num brejo de vocações?
nem o valor de uma sobra de carteira
jogada ao léu numa sargeta
poderia salvar a carreira
Podendo ou não
caminhar no estreito e mareado
caminho de um encontro
marcado pelo único e vencido
bilhete comprado
Vai estar entre milhões
artistas ou não
fazendo viver
a melodia
de um poder
ficar e ver
pelo simples prazer
a luz de um dia...
acontecer e vencer pelo melhor
mais sutil e feroz
dos guias
uma múltipla e diferente
saudação
ao dinossauro
de uma manhã perdida .
II- Hora devida
devia ser hora
pronta agora mesmo para sair de fato
de um martírio entrecortado pelo primeiro, segundo e terceiro
atos...
que drama
um tanto fora de hora
nem ser pra tirar um lugar
uma sorte premiada
uma qualquer que fosse
outra espécie de vida
para ser apenas uma melhor dádiva
uma dona prometida
que fosse pública e sincera
contemplação de fúrias
de ventos de tempos em tempos
nos templos
em pastores e arremedos
ruminantes
e azedos
de uma pátria ignorante e falida que nem busca já encontra
nas esquinas com mármores e confortáveis
poltronas
o seu próprio missal, sua bastante oração
um efeito temporal
num discurso milenar
de seus atores principais
pondo em seus chapéus toda sorte
de dons materiais...
pois eles podem precisar de ver
na geladeira o caviar
impune de uma fome desmedida
de comer dos outros por uma vida
todo seu poder de doação
enfrentar esse martírio
essa visão dantesca e remediada
conforme o canto uma canção
cheia de mel
outra vez um ode ao ceu
pura loucura de solidéu
terno e gravata,
num esquife que se renova e dilata
como uma veia entupida de fel
lixo humano, lixo orgânico
prá todo lado
num festival de pecado
pura feitura de renovado portal
nem vai nem vem
parado no espaço sideral
convencendo quem tem algo a dizer
que se cale
que viva sua vida medíocre
que fique calmo e não se irrite
pois nem no verão houve brisa
mais suave...
III- Queridos!
Nessa meia hora
parei pra pensar e agora?
Lavar lençóis,
dar banho no cachorro,
sair e comprar pão, ovos , batata,
tomates, algo mais?
Sim é preciso mesmo que fique indeciso
o corpo tem que se alimentar
num vai e vem de hora que passa
ligeira e fisgando o seu melhor
precisa parar e olhar o bucólico e natural
que fazer de qualquer dia...
mesmo sem poder se dirigir diretamente
a alguem
todo mundo está correndo ,
menos eu,
vi num poema , dois ou tres,
um jeito de falar agora mesmo
com voces
pois me aperta na garganta
uma lágrima triste
de saudade dos meus...
embora parada numa esquina de pensar
pedir perdão por soluçar
sem querer , juro que não
foi impossível me conter
espero um dia apenas poder ser
um filão
de estranhas e imprudentes divagações
por nada teria tomado o tempo de
ninguem
mesmo que fosse prá avisar
que há alguem parado olhando
numa direção e esperando
quando?quando?será que algum dia virão?
vir por vir até um amigo qualquer
sem esperar decisão
sem pressão , sem aliciamentos
apenas querendo discutir os rumos
dos ventos
lamentar a sorte dos que poderiam
não morar na rua de tornados
agradecer mais uma vez por ter sido poupado
enfrentar o vazio dos dias mesmo
que não fosse o combinado.
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