quarta-feira, 31 de julho de 2013

Manet em Veneza -hoje

Manet em Veneza, hoje.



                            Garé de Saint Lazare- 
           pintura de Edouard Manet-(Paris-1832-1883)



Que importancia teve Manet na conjuntura artística de seu tempo?

Avaliar isso, assim ligeiro, é difícil mas podem-se mirar vários angulos de sua  marcante relação com o contexto de uma Paris dos novecentos... em que se produziram as condições para um grupo de artistas - os impressionistas- virem a se destacar com suas novidades em termos de técnica e ação politico-cultural que desviava dos Salões o poder absoluto de contabilizar o que era arte e o que não era...; mesmo que lá, mais adiante, todos  aceitassem o valor de espaços oficiais para a bem sucedida carreira do artista-
 já naqueles tempos... salvos os raros casos de genios - 
onde, por reconhecimento dos dias de hoje, Manet se inclui.

Na redondeza de Manet - orbitavam Monet,
 Renoir, Berthe Morissot, Degas, entre outros - 
sendo muitos deles socorridos, financeiramente inclusive, por ele cuja herança paterna administrada por um advogado, o deixava em situação de fazê-lo...generosamente!

 Em suas idas ao ar livre , para pintar ao natural, fazia um movimento revolucionario em que o atelier 
deixava de ser o ambiente  ideal- apesar de artificial - 
de todas as possíveis criações... e o diálogo com a realidade dos dias- passava a ser algo em que se deter...

Mais adiante , juntam -se - os impressionistas e Manet , por algo em torno de 4 ou 5 anos de produção , mas Manet morre antes do grande sucesso que o grupo iria desfrutar mais tarde...

Impressiona que tivesse em sua sala de visitas , nos saraus em que Mallarmé declamava seus poemas ou discorria sobre seu modo de pensar, Baudelaire , Zolá, observadores e literatos , cronistas e críticos de seu tempo, embalados pelo piano  afiado de sua esposa Suzanne - que estudava  de Wagner para as horas com os amigos... coisas recem produzidas por esse extraordinário músico...

Paul Valery faria estudos dessa relação de Manet com Baudelaire; e veria na correspondencia secreta entre Mallarmé e Manet... uma cumplicidade importante.

Para Zola - haveria em Manet - uma "...consciencia absoluta da originalidade de seu tempo... e um igual entusiasmo  pela condição moderna..."

Uma das coisas com as quais mais me identifico  - é o fato de Manet sentir-se contrariado em usar meias tintas... preferindo  passar diretamente da sombra pra a luz...

Dez anos antes de Monet, Manet - concebia a idéia da cor pura - que viria a ser a base do impresionismo...
Vale recorrer a Fayga Ostrower, Mathey,Benet, Faisin entre outros sobre isso caso interesse aprofundarem-se...

Com a provocativa e especialmente produtiva  convivencia com pintores num grupo de estudos  de pintura na Sociedade Brasileira de Estudos Espiritas em Curitiba, elaboramos um livro masucrito em 1997 em que Manet é o foco principal pois lhe dedicamos um ano inteiro de estudos  recorrendo a Bibliotecas públicas e de instituições como Goethe, Aliança Francesa, para levantarmos tudo que pudesse estar a mão sobre a vida e obra desse artista...
O resultado desse trabalho é por certo parcial diante dos recursos de hoje em dia ( com os recursos  democratizados pela internet bem mais que á época! )e  o que podemos dizer é que há um exemplar dele - no acervo da SBEE pois lhes foi conferido direito sobre essa pesquisa, em favor de suas obras voltadas para o bem público como uma pequena contribuição para os iniciantes no estudo de sua vida e obra.

Na pequena e aberta para novas abordagens -obra que lá ficou, há por certo mais que tudo, a paixão que nos despertou a história desse pintor   sendo considerado precursor do impressionismo  e cuja vida-  humanamente falando - a parte as nuances sociais de seu tempo , foi  de dor e sofrimento pessoal pois falece ao amputar uma das pernas na qual sofria havia anos de ferida aberta , concorrendo para que seus últimos trabalhos fossem com  pastel seco , igualmente magistrais, as quais realizava sentado, para  melhor suportar as dores  causadas por essa doença. 

Mesmo na recente exposição sobre sua obra que ocorre em Veneza- esse mal é reputado a sifiles; mas outras fontes como a de Bento, que analisa a vinda de Manet para o Brasil, quando serviu na marinha francesa - passando aqui cerca de 4  meses - considera que havia se ferido em andanças pela mata e contraído tétano mal curado... já na juventude...

Há muito a dizer sobre Manet.
E mais ainda sobre como nos influencia seu trabalho até os dias de hoje pois, simplesmente, encontramos nos retratos que realizamos em público com carvão e pastel seco - um prazer imenso na execução...
E sentimos a proximidade com esses grandes artistas que fizeram  de sua história coloridas mensagens de resistencia a dor  e as angústias que não são menos importantes por se darem no âmbito particular da vida dos individuos... para cujos reclamos , tambem abrimos escutas nos dialogos com os retratados que passam pela nossa prancheta...
 Muito mais que  preciosismo técnico - na execução - acreditamos no encontro de seres vivos que dialogam e expressam mutuamente suas mais caras impressões da vida no mundo... e em seu tempo... quando juntos colaboram para que uma obra nova , inédita, original venha a luz...sempre de autoria múltipla... pois não há possibilidade de um artista executar uma obra significativa sem o concurso do envolvido num retrato por exemplo...
 Cremos firmemente que o trabalho evolui
 como tudo na vida pelos desafios em que limites e alcances técnicos concorrem para o sucesso da execução artística e expressiva  sendo  parte apenas não os únicos mensageiros da dor e da vida mortal dos homens comuns de nosso tempo...incluindo sem nenhuma dúvida  a do artista em formação ... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário