Manet em Veneza, hoje.
Garé de Saint Lazare-
pintura de Edouard Manet-(Paris-1832-1883)
Que importancia teve Manet na conjuntura artística de seu tempo?
Avaliar isso, assim ligeiro, é difícil mas podem-se mirar vários angulos de sua marcante relação com o contexto de uma Paris dos novecentos... em que se produziram as condições para um grupo de artistas - os impressionistas- virem a se destacar com suas novidades em termos de técnica e ação politico-cultural que desviava dos Salões o poder absoluto de contabilizar o que era arte e o que não era...; mesmo que lá, mais adiante, todos aceitassem o valor de espaços oficiais para a bem sucedida carreira do artista-
já naqueles tempos... salvos os raros casos de genios -
onde, por reconhecimento dos dias de hoje, Manet se inclui.
Na redondeza de Manet - orbitavam Monet,
Renoir, Berthe Morissot, Degas, entre outros -
sendo muitos deles socorridos, financeiramente inclusive, por ele cuja herança paterna administrada por um advogado, o deixava em situação de fazê-lo...generosamente!
Em suas idas ao ar livre , para pintar ao natural, fazia um movimento revolucionario em que o atelier
deixava de ser o ambiente ideal- apesar de artificial -
de todas as possíveis criações... e o diálogo com a realidade dos dias- passava a ser algo em que se deter...
Mais adiante , juntam -se - os impressionistas e Manet , por algo em torno de 4 ou 5 anos de produção , mas Manet morre antes do grande sucesso que o grupo iria desfrutar mais tarde...
Impressiona que tivesse em sua sala de visitas , nos saraus em que Mallarmé declamava seus poemas ou discorria sobre seu modo de pensar, Baudelaire , Zolá, observadores e literatos , cronistas e críticos de seu tempo, embalados pelo piano afiado de sua esposa Suzanne - que estudava de Wagner para as horas com os amigos... coisas recem produzidas por esse extraordinário músico...
Paul Valery faria estudos dessa relação de Manet com Baudelaire; e veria na correspondencia secreta entre Mallarmé e Manet... uma cumplicidade importante.
Para Zola - haveria em Manet - uma "...consciencia absoluta da originalidade de seu tempo... e um igual entusiasmo pela condição moderna..."
Uma das coisas com as quais mais me identifico - é o fato de Manet sentir-se contrariado em usar meias tintas... preferindo passar diretamente da sombra pra a luz...
Dez anos antes de Monet, Manet - concebia a idéia da cor pura - que viria a ser a base do impresionismo...
Vale recorrer a Fayga Ostrower, Mathey,Benet, Faisin entre outros sobre isso caso interesse aprofundarem-se...
Com a provocativa e especialmente produtiva convivencia com pintores num grupo de estudos de pintura na Sociedade Brasileira de Estudos Espiritas em Curitiba, elaboramos um livro masucrito em 1997 em que Manet é o foco principal pois lhe dedicamos um ano inteiro de estudos recorrendo a Bibliotecas públicas e de instituições como Goethe, Aliança Francesa, para levantarmos tudo que pudesse estar a mão sobre a vida e obra desse artista...
O resultado desse trabalho é por certo parcial diante dos recursos de hoje em dia ( com os recursos democratizados pela internet bem mais que á época! )e o que podemos dizer é que há um exemplar dele - no acervo da SBEE pois lhes foi conferido direito sobre essa pesquisa, em favor de suas obras voltadas para o bem público como uma pequena contribuição para os iniciantes no estudo de sua vida e obra.
Na pequena e aberta para novas abordagens -obra que lá ficou, há por certo mais que tudo, a paixão que nos despertou a história desse pintor sendo considerado precursor do impressionismo e cuja vida- humanamente falando - a parte as nuances sociais de seu tempo , foi de dor e sofrimento pessoal pois falece ao amputar uma das pernas na qual sofria havia anos de ferida aberta , concorrendo para que seus últimos trabalhos fossem com pastel seco , igualmente magistrais, as quais realizava sentado, para melhor suportar as dores causadas por essa doença.
Mesmo na recente exposição sobre sua obra que ocorre em Veneza- esse mal é reputado a sifiles; mas outras fontes como a de Bento, que analisa a vinda de Manet para o Brasil, quando serviu na marinha francesa - passando aqui cerca de 4 meses - considera que havia se ferido em andanças pela mata e contraído tétano mal curado... já na juventude...
Há muito a dizer sobre Manet.
E mais ainda sobre como nos influencia seu trabalho até os dias de hoje pois, simplesmente, encontramos nos retratos que realizamos em público com carvão e pastel seco - um prazer imenso na execução...
E sentimos a proximidade com esses grandes artistas que fizeram de sua história coloridas mensagens de resistencia a dor e as angústias que não são menos importantes por se darem no âmbito particular da vida dos individuos... para cujos reclamos , tambem abrimos escutas nos dialogos com os retratados que passam pela nossa prancheta...
Muito mais que preciosismo técnico - na execução - acreditamos no encontro de seres vivos que dialogam e expressam mutuamente suas mais caras impressões da vida no mundo... e em seu tempo... quando juntos colaboram para que uma obra nova , inédita, original venha a luz...sempre de autoria múltipla... pois não há possibilidade de um artista executar uma obra significativa sem o concurso do envolvido num retrato por exemplo...
Cremos firmemente que o trabalho evolui
como tudo na vida pelos desafios em que limites e alcances técnicos concorrem para o sucesso da execução artística e expressiva sendo parte apenas não os únicos mensageiros da dor e da vida mortal dos homens comuns de nosso tempo...incluindo sem nenhuma dúvida a do artista em formação ...
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