quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Numa lata de aveia Quaker das antiga...



NUMA LATA DE AVEIA QUAKER DAS ANTIGA

             Figura humana do imaginário - oleo sobre cartão , Fatima Abrão- 1976.



Quando resolvi que queria  pintar ," enchi tanto a paciência" de minha mãe , até que ela resolveu me ceder uns pincéis que não ocupava, uns tubos de tinta a óleo que podia ... e mais ... me emprestou o cavalete que seu Druzino , esposo da professora de pintura dela, havia feito exclusivamente sua altura- sob encomenda- pra ela...
Muito bem...Mas Não havia tela... nem dinheiro para comprar... eu literalmente juntei num lixo desses de rua, uma capa de livro de sei lá o que parecia de máquinas algo assim; era capa grossa ... desmontei e fiz duas pinturas... por coincidencia duas negras... uma mais esguia de rosto e a outra mais bolachuda , arredondada... essa aí que está acima... não tenho a menor  ideia quem inspirou essas pinturas... sei que adorei essa cor ... adorei fazer o monocromático... e pronto.
Um dia mostrei a alguem entendido em arte que ficou horrorizado e disse:
-" meu Deus!" "...mas que lambuzo... não se mistura as tintas na tela minha filha para isso se tem a paleta..." 
Fiquei triste sabe? Estava tão contente com o resultado... me achando tão  bem sucedida...pra começo de assunto... de qualquer modo gosto demais desse retrato... É sempre dificil aceitar uma crítica quando a gente já está apaixonada por um trabalho... 
Na realidade , esse ímpeto de - resolver que vai pintar...-resultou em uns quarenta quadros , uma produção que variou desde um barquinho a deriva com sol no horizonte, até um palhaço ou dois; mas de fato , alguma pesquisa sobre o que estava a mão nas lojas de tintas e artesanato, fazia ver que as pessoas pintavam os palhaços da revista, então todas pintavam o mesmo palhaço...e eu não queria isso. Fui pensando no que eu queira e cheguei a conclusão que pretendia dizer alguma coisa sobre a vida no mundo...uma mensagem ...e não fazia muito tempo havia lido Fernão Capelo Gaivota, o qual me impressionara bastante - era  de fazer pensar...
Entendi que um artista tem que trabalhar muito e será reconhecido pela sua pincelada e pelo seu estilo, pelo que sua pintura falar... e pode levar a vida toda esse processo é demorado...para desenvolver ; não acontece de um dia para o outro... 
Minha mãe , tinha muita facilidade com a parte técnica da pintura de paisagem... fez aulas com uma senhora especialista em pintar pinheirais da vizinhança das Merces em Curitiba.
 E se saia muito bem... em proporções , tudo...Não entendi nunca direito, suas explicações do porque não dedicava mais tempo a essa arte já que a desenvolvia tão bem...
Porem nunca me desestimulou... sempre colocou o que pode nas mãos... com simplicidade; mas apoiando sempre...Sua sensibilidade era tamanha que quando por uma crítica mal digerida parei -simplesmente durante vinte anos- não pintei mais nada, ela havia guardado numa lata de aveia Quaker das antigas... bem tampadinhos todos os tubinhos de tinta a óleo que eu havia deixado lá atrás.... do jeito que ficaram... e pasmem: estavam bons ainda! E sem dúvida - os usei todos ... no meu recomeço...muito emocionante- por tudo isso e mais um pouco! 

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