quinta-feira, 31 de maio de 2012

Meus Cadernos de Filosofia (003)







Estudo de modelo vivo - Casa de Cultura  Mario Quintana- 2010-Fatima Abrão


Meus Cadernos de Filosofia (003)


Ètica e História da Ètica-


Kant- Razão Teórica
         Razão Prática


Essas anotações são fruto de acompanhamento de aulas do professor Thadeu Weber da PUC de Porto Alegre,
do segundo semestre de 1 994 , dentro do curso de Mestrado em Antropologia Filosófica
cursado por nós graças a concessão de Bolsa da Capes.
São fragmentos em que buscávamos registrar caminhos de leitura...


Que a Ètica Kantiana vinha sendo pouco trabalhada-
A Crítica da Razão Prática - um texto pouco estudado.
O que está em questão é o uso prático da razão 
e o uso puro da razão...


A  Crítica da Razão Pura, o aspecto da -
autonomia da vontade;
- da necessidade de restringir a razão pura, prática, Kant vai demonstrar que em determinado fenomeno ela pode ser negativa; mas pode ser positiva- quando chama respeito objetivo- quando é lei moral.
A distinção entre ou a passagem de uma para a outra-Fenômeno e Coisa em sí;
Por causa da redução do conhecimento ao nível dos fenômenos se dá a passagem para a metafísica;
Que só se passa para ela depois de delimitado o fenômeno  ao nível da experiencia.


No primeiro capítulo da Crítica da Razão Prática- Kant retoma desde a Metafísca dos Costumes; porisso a importancia de se ver essa parte da Metafísica dos Costumes...
O objeto da Razão Prática -
-a  questão do bem e do mal e o que vem antes - um, outro, ou a Lei Moral...
-ele tenta mostrar a noção de bem e a noção  de mal , nos seus aspectos formais.
Propõe-se a fazer algumas considerações sobre a distinção entre -" coisa em sí" e "fenômeno".
Se Kant pergunta:- Como são possíveis juízos sintéticos a priori... vai-se perguntar- como são possíveis proposições sintéticas a priori...


O Professor Thadeu destaca alguns pontos de leitura- remete-se a Lógica Transcendental, á sua Introdução , onde relaciona   Estética e Analítica, onde Kant vem distinguir 
entendimento  e  sensibilidade...


                   ..."pensamentos sem conteúdos são vazios", diz o professor lembrando um velho pensamento aristotélico...portanto, todo conhecimento vem da experiencia!


                   ..."intuições sem conceitos são cegas "...
( refere-se aqui as intuições sensíveis)
Diz Kant- "Se não podemos  jamais ultrapassar os limites da experiencia sensível...se há razão na ciencia isto precisa ser conhecido a priori".
Mas o filósofo não demonstra isso; segundo o professor- Kant parte do principio de que ele é possível a priori.Kant diria - que : ".. de que é possível , Newton provou..." Ao tomar os objetos como fenômeno é possível fazer ciencia...diz ele.




A questão do Uso Dogmático da Razão - 
Como aceitar a idéia de Deus sem crítica... como se fez até Descartes, Leibniz; Descartes dá " apenas"  uma nova fundamentação para a Metafísica- então a  Ciencia  é possível- essa condição que eu imponho : espaço e tempo = que se tem a priori; então o não ser puro, significa já ter vindo no aspecto cumulativo da ciencia.


Porisso é a  priori- porque não vem necessariamente de "novo experimento"- já foi conquistado em experimento anterior - porisso - científico.


A razão exige um incondicionado para outro incondicionado- e o intelecto precisa de um condicionado para outro condicionado. Intui e tem intuições puras... 


(§ XXX)- na questão de toda Metafísica ser dogmática- -"...Portanto , diz Kant- tive que suprimir o saber para obter lugar para fé"( ...)


Thadeu diz- se existem fenômenos e eles aparecem no espaço e no tempo-


- se não podemos conhece-las temos que poder 
pensá-las... e aí o conhecimento tem uma base especulativa...voce tem um causado e busca outro 
e aí - o Físico para o Metafísico diz- 
"por causa da Razão..."
  (intervalo)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Meus cadernos de Filosofia (002)

Meus Cadernos de Filosofia (002)



Amedeo Modigliani, pintor e escultor italiano, descendia de Spinoza por parte de mãe - sua familia era de judeus safardistas.Conta-se que o artista fora um estudioso de Espinosa e tambem de Nietszche.


Marilena Chaui especializou-se em Spinoza no Brasil entre outros filósofos, e o professor Paulo Vieira Neto, era  seu orientando nesse pensador, nos idos de 1998-9, quando ele nos ministrava aulas num pós de Filosofia Moderna e Contemporânea na Federal do Paraná... tendo deixado marcas pelo brilho e fluência quando menos...pois muito jovem alem de tudo...
Recordamos alguns dos momentos de reflexão em suas aulas ... de grande densidade e concentração...mas tambem de desafiadores impasses , provocativos e memoráveis intervalos...!!



Professor Paulo V.  nasceu para filosofar; estudava muito.Se preparava muito bem e vinha para arrazar...


Começava um parágrafo- sim - apenas um parágrafo de Spinoza - seu autor favorito, ia defender sua tese  sobre a obra dele e sua exposição era brilhante.
Insuportavelmente , assustadoramente brilhante.
A gente poderia dizer que  era vocacionado .
Mas como ia dizendo , começava o parágrafo do Spinoza de leve, falando baixo, solenemente, com humildade, elegancia...e ia indo... pensamento adentro...e uma sala inteirinha de gente madura e jovem, atônita, ouvindo e tomando nota sem fazer nenhum pio...
Muito Bem - O texto- 
"Tratado da Correção do Intelecto" 
Sobre o que  tratava...?
O propósito do texto seria de por em ordem
o intelecto  e as as coisas como elas são 
em sí mesmas pelo intelecto...
como é possível colocar o intelecto para funcionar como deve ser?
O texto vai partir de uma experiencia porque era o gênero literário e vai demonstrar o que pertence e o que não pertence ao intelecto..


Na distinção - do que na imaginação é representado
                       do que no intelecto é pensado?
Segundo o professor, Spinoza não mostra a definição de intelecto aí no Tratado...Consegue introduzir  a distinção entre imaginação e intelecto aí. 
Vai ser na Ètica  , outra obra do filosofo que vai (§.VII) desenvolver segundo ele.
Dever-se-ia sair do texto sabendo quando pensamos; quando imaginamos- e aí  iniciar o filosofar;
quando o intelecto for Reformado;
- a geometria usada como recurso para entender o funcionamento do intelecto...
Não há índice no texto ( do Tratado da correção...)
Ele se apresenta em parágrafos- os 17 primeiros são os quais vão ser contemplados nas aulas por conta dos pressupostos que precisam ser apropriados para entender-se os demais...
Observa que vem escritos na primeira pessoa .Demonstra de imediato como ele resolveu o problema- poderia supor que estivesse ao modo de Descartes- discorrendo sobre um Discurso do Método; mas, o professor Paulo diz ainda que na realidade -  o que ele vem a fazer 
é discutir
o bem supremo- a felicidade...
a beatitude...
embora seja desprovido de teologia -
 "desmontado" como se diz - nos textos anteriores- pensando no entanto a Filosofia da Beatitude - mas não da "Salvação"- ao modo cristão então usado... 
O conhecimento apresentado como instrumento para a felicidade não como fim...
O método que conduz a beatitude...
Embora fale de não haver bem e mal como coisas em sentido absoluto - deixando aí " flutuante " a questão
de que haja um bem supremo... 
(intervalo)

Meus Cadernos de Filosofia- (001)


MEUS CADERNOS DE FILOSOFIA-(001)


Um dia eles iriam pegar esses
cadernos  e iriam  rever essas aulas 
que registram todas,  numa sequencia de anotações ,
num esforço enorme para dar sentido a tudo- 
que ouviu e tentou traduzir
para tentar a entender
quando relesse  um dia...
Um dia...
Sabia-se  lá quando...!
Mitologias...
Filosofia era uma disciplina que existira
nas escolas há uns cinquenta anos;
depois, foi considerada inútil, ou pior - :
podia trazer confusão - ora levar para lá ,
ora levar pra cá, o rumo das idéias...
Como confiar numa coisa dessas?!
     Como na Caixa de Pandora- filhote de gato e maleta de                                                    petit pois em papel mache-( por Fatima M. Abrão).  


Depois do Ginásio - (da 5ª a 8ª séries) foi cursar a Escola Normal Colegial - que tinha por objetivo reunir cadeiras do magistério de primeiras séries e algumas cadeiras de Colegial ou Científico... entre elas a Filosofia...
Achou incrível essa possibilidade de uma cadeira
que autorizava a perguntar, a pensar ,
a conjecturar -por norma interna, por estrutura ...


Na sua rua , na mesma quadra, havia uma casa em que
se apontava o fato de um rapaz ter ficado doido por causa da Filosofia...lera muito, estudara demais
e ficara ...doido!
Sua mãe apontava e dizia - olha aí tá vendo - ? Não dá pra ler demais...ler demais faz mal ...confunde as idéias," pira" a cabeça...pode enlouquecer a pessoa...


Claro que ela sabia que os padres e as freiras estudavam a Biblía e  a Filosofia...Só nunca entendeu porque estudavam os dois...Um seria escritura de Deus e a outra: dos homens...Quer dizer - uma , inspirada por Deus e outra só do pensamento dos homens...nem sabia bem se era isso ... a diferença...entre conhecimento bíblico e conhecimento filosófico...(!?) De um não se levanta questão nenhuma, é dogma; e de outro - se espera coerência lógica....e se respeita os dois... na sua sabedoria.


Pode ler Platão pela primeira vez  aos 18 anos lá na sala adorável da Biblioteca Pública . 
Nossa - lá se vão 40 anos!
No tempo de Escola Normal , liam-se fragmentos de um filósofo, de outro...
Entrando na Faculdade de Ciencias Sociais do Setor de Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal  tambem não se viveu aproximação com a Filosofia .
Ela tinha sido banida oficialmente, considerada então meio perigosa... talvez por não assegurar o rumo das idéias para onde se esperasse  que elas acabassem indo...
Por incrível que pareça- se não for dogmático - o porto onde uma idéia for dar- pode surpreender e acabar mal -  desagradando as pessoas que tem outra idéia, contrariando-os e o que pode ser pior que contrariar alguem?
A gente mesmo- sofre um monte quando alguma coisa nos contraria...!
Gostaríamos de só ter acordos , concordâncias, acolhimentos amistosos, fraternos, doces, líricos, brandos ...na vida...
Mas como- se vivemos num mundo em conflitos? Em guerras? Onde todos se defendem a todo momento antes mesmo de serem atacados, para se prevenirem?
Vamos que venha o ataque, não é?
Na dúvida melhor que filosofar é cada qual ter sua bomba atômica ...para no mínimo assustar o outro e fazê-lo parar de atacar ou de pensar em atacar,ou mesmo fazer-nos mais confiantes diante da força de ataque do outro tendo  as mesmas armas que ele...para estar pelo menos em igualdade de condições -
naquela de que: pôxa- cinco contra um? Que moral...?! 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um Marciano diferente dos outros...

                 Marciano Schmitz-(14.05.1953) 
artista ativo da comunidade artística hamburguense conhecido como pintor  escultor e professor das artes do desenho e da pintura.
Nossa homenagem e gratidão.

A chuva caiu e aos cântaros como dizem os gauchos...!Quando deu o que se diz "- o pé d'agua" do século... encontrei Marciano junto a outras pessoas buscando abrigo num grande toldo de uma Feira de Livro, na praça 20, no cento da cidade.Não havia nada que se pudesse fazer a não ser esperar a chuva passar...
Amigo de meu mano mais velho- Gilberto, professor de ingles e escritor; ele é tambem junto a alguns poucos artistas - da região do Vale dos Sinos, um profissional que une técnica , e suavidade nas cores , e em suas temáticas se observa um sobrevoo as tradições folclóricas e literárias do Rio Grande do Sul, - tendo realizado grandes painéis sobre a obra de Simões Lopes, com suas lendas como a da Salamanca do Jarau, entre outras...
Muitas vezes tive a de sensassão de que se estava em frente a uma revivencia de Rafael,  pela felicidade e harmonia de sua obra por mais dura a realidade que comunique  ...
Uma vida inteiramente voltada a arte, tem em sua história momentos altos como por exemplo a pintura atras do altar na Catedral Metropolitana de Novo Hamburgo, a Igreja São Luiz, em cujo interior belíssimo se veem tambem pinturas de Aldo Locatelli, nas laterais , com interessante colorido e performance pictórica...
Marciano integrou um movimento  que marcou a evolução da arte no municipio, quando com Carlão de Oliveira tinham em um atelier em Hamburgo Velho seu local de trabalho.
Nesse momentinho, enquanto a chuva não passava- me atrevi a falar de um plano que tinha - perguntando o que ele achava- :queria pintar retratos dos artistas conhecidos  e fazer ao final uma exposição homenageando todos  eles...
Mesmo reconhecendo  ser eu- autodidata e com pouca prática, na mesma hora seus olhos brilharam e ele concordou -"... faça isso! Faça mesmo- pois nós vivemos nos dizendo uns aos outros que precisamos fazer  esse registro e ninguem faz nunca... Não importa - faça do seu jeito, mas faça....Fale com o Carlão, a Ariadne, o Scholles, o Mae, a Maristela, fale com o Rogerio , o Rauber; fale com todos eles- diga que eu estou contigo, que estou dando a maior força e va em frente...Quando quiser estarei a disposição, é só me ligar e marcamos uma hora...  e voce vem em meu atelier e faz seus esboços..."
A chuva deu uma amainada e fomos cada qual ao seu destino. Minhas pernas  tremiam ; meus pés nem tocavam o chão- : tinha conseguido o apoio de uma autoridade na arte de Novo Hamburgo e região para iniciar minha ousada empreitada -retratar artistas contemporâneos ...!
Nem suportes, nem tintas, nem pincéis... só uma vontade enorme... foi daí que fui ligando para um, para outro, e fui ao seu encontro aqui , ali, até conseguir reunir um tanto de estudos e começar a pintar. 
Débora Sarmento administrava com Jane Schmitt e Lilian Schmitt -( aquarelista esta última , cujo trabalho nos agrada muito)...a Casa 1173 - que durante um bom tempo catalizou a atenção da comunidade artística em realizações de exposições e cursos de toda ordem-  sediada em Hamburgo Velho, bairro de início da povoação da cidade. Débora alcançou-me algum material em cartazes refugados - constituiram-se em cartões de boa textura e suporte adequado para essa experiência que se pretendia sem  ou com poucos custos, já que não tinhamos reservas e nem patrocínios com que contar... naquele momento . 
Vera Costa- amiga e curadora de nossa segunda individual no Shopping de Novo Hamburgo em 1995, nos alcançou um saco plástico com tintas acrílicas de várias cores, dizendo que não as usaria e queria contribuir...
Era o ano de 2000, começando com  um projeto muito audacioso, com resultados de vários estudos e cerca de 23 retratos que foram expostos modestamente numa primeira vez no saguão do Jornal NH, e numa segunda ocasião no saguão do Centro Municipal de Cultura.
Meu mano e sua Escola de Língua Inglesa -  Conquest, patrocinou um coquetel para a abertura.
Não é possível esquecer esses tempos de riquíssima experiência , trocas emocionantes com os artistas, seu generoso coração que em nenhum momento questionou se ia ou não dar tudo certo, se os trabalhos resultariam ou não em algum sucesso...técnico e pictórico...
A antiga história de que se aprende a fazer - fazendo, foi testada a farta; alguns dos retratos obtidos, não puderam nem se atrever a querer expressar  ao artista em questão - pois não havia explicação plausível- mas as características na execução expressavam outro ser...aparentemente...!
Angustiante- drama de quem quer mais do que pode, tortura de quem não penetrou nos meandros da arte o suficiente para querer mais do que conseguiu...Em nada nos abatíamos... por incrível que pareça- parecia que por uma determinação interna vigorosa - era aquilo que podiamos e que tinha que ser feito num  primeiro exercício...de aproximação com esses personagens tão preciosos da história do pensamento e da arte do Vale e que apesar da  fama de deuses da vaidade, são isto sim verdadeiros heróis da luta pelo desenvolvimento cultural- que nas artes plásticas fazem valer suas falas, e quando são expostas- já percorreram um árduo e solitário caminho de aprendizagem, entendimento e aperfeiçoamento humano - tambem social.
Toda a comunidade onde estão inscritos, se eleva com eles.

UM VÍDEO - UM ENSAIO COMEMORATIVO-


Um vídeo - um ensaio comemorativo
 de 20 anos de trabalho em arte
de Fatima Mohamed Abrao-



Esse ensaio deve ser creditado a fotos realizadas  nos anos de 2007, 2008  por Bissigo Ricco , artista gaucho;foto de  Heloisa Petry e fotos da própria autora dos trabalhos aí reunidos que constituem-se em pequena mostra de retratos de artistas contemporâneos, das artes plásticas especialmente, e pessoas de convívio deles; figuras humanas retratadas - ao vivo, e alguns estudos de obras de artistas como Edouard Manet- no caso- "Figos e Uvas", "Mary Laurent"e "Gare de S'aint Lazare";  trabalhos de natureza morta- com florais em configuração convencional e imaginária; a casa do personagem da história da educação paranaense, Erasmo Piloto em Curitiba, na época residencia de um casal de amigos- ela socióloga e ele filósofo; retrato baseado em foto antiga de  "dona Vini"- estilista de moda hamburguense; filhotinhos de minha gatinha Mili; gatos em papel mache ; janela papietada com papel de seda; a casa polonesa do parque do Papa em Curitiba, uma série de fotos da artista- em diferentes idades- aos dois anos e meio, aos 12 , 24 e aos 53 em seu atelie em Novo Hamburgo em 2008, numa pequena reunião de imagens desses anos de trabalho .
Há muito mais - nesse percurso de estudos e ensaios.Tanto descortinar de horizontes, de embretamentos ...tambem!


A audácia de reencaminhar as energias de um trabalho predominantemente intelectual
ligado a pesquisas sócio-econômicas e culturais ,
devido a formação acadêmica em sociologia
e políticas sociais, vinculadas em 20 anos 
de serviços públicos, 
para o desenvolvimento artístico -
traz as marcas de um aprendiz que embora muito sensível as questões da àrea, vai sofrer duplamente a falta de recursos técnicos para trabalhar (e nem por isso desistir).
A aliança com outros artistas, a pesquisa nos livros ,
os estudos das obras de clássicos e apaixonantes como Manet e Modigliani nesse caso em especial,poderão algum dia ,refletir-se nesse trabalho em algum momento de análise mais imparcial do que esse...em que está tudo muito junto- muito conjugado...
Por uma necessidade vital de seguir  trabalhando com os meios disponíveis , muitas vezes com acréscimos de generosas contribuições materiais inclusive- de amigos artistas- não só de pincéis amaciados como de tintas de todo tipo...
Muitos poderão estranhar se eu disser que que sim - a pintura do retrato de fulano ficou em azuis , por senti-la nesse tom , mas tambem, feliz coincidência: - por só ter tinta nessa cor, naquele momento!
Nem de longe podemos nos comparar a grandes artistas como Modigliani , Van Gogh, entre outros cuja história conta que seus parcos recursos condicionaram que usassem, as vezes, os dois lados de uma mesma tela; ou como Van Gogh- que mastigava as raspas da sua palheta para aproveitar as tintas e por não te-las em abundancia...
Nesse sentido - analisar um efeito conseguido por um artista pode as vezes tornar-se -elocubração peripatética- pois não se sabe exatamente as condições materiais de produção de suas obras... para afirmar quase nada...pois até sabendo -as - podemos não ter acesso as condições afetivas, psicológicas, vivenciais familiares , sociais que as condicionam para atestar essa ou aquela característica obtida por aqui ou por ali...
Muitas determinações que culminam numa imagem que se cristaliza e memoriza  e que vai ficar no imaginário socio- cultural registrada sem que se tenha a menor idéia de como se configurou... e que vamos apreciar apenas por nos dizer algo aos sentimentos da hora...alguns tão fortes que nos impulsionam a levar para nosso convívio a obra do artista, um desconhecido - uma eterna  incógnita para nós...  

Ella ...


              Retrato de pastel seco , baseado em foto 
                 de jornal antigo-dona Ella Einsffeld-
 Uma das tentativas de retratar pessoas de notoriedade na sociedade hamburguense ocorreu observando apenas algumas situações de aproximação com suas familias , de convivência social ou por homenagem possível no momento dessas mostras de retratos nas quais depositávamos tempo de aprendizado mas tambem de diálogo artístico pessoal ali no contexto socio-cultural em que nos moviamos.


Ausentes de Novo Hamburgo por regresso a Curitiba entre os anos de 1 995 e 1 999, tivemos nosso retorno acarinhado por muitos amigos que deixaramos aí, e que nos propiciaram um sem número de alegrias e aberturas em que encontramos muitos motivos para continuar trabalhando na arte considerando aqui, nossa história pessoal, autodidata - marcada por uma interrupção de 20 anos em seu desenvolvimento e recuperada pela ação pedagógica de pessoas que tiveram importancia decisiva nos impulsionando ao trabalho de novo, paralelamente a nossa atuação técnica como socióloga no serviço público, nos idos de 1992.


Falo de pessoas como - Haidy Drebs, Mitidieri, Marizete Penz, Tania Malmann, Lucia Hardth, Maristela Schmidth, Vera Costa, Sarai Schmidth ,e tantas outras que homenageio nesse instante por extensão... colegas de Secretaria de Educação , Cultura e Desporto de Novo Hamburgo...
Quando voltamos a cidade em 1999, fomos organizar nosso atelier na rua 5 de abril, em espaço de uma edícula num lindo quintal da casa de Dona Ella, já falecida , onde reside uma de suas netas  e seus filhos, sendo  uma grande artista da gravura em metal- Karin Kopitke.


Foi então que conheci a história dessa senhora de origem alemã que simplesmente marcou os tempos de implantação e desenvolvimento industrial nessa cidade que tornou-se referencia internacional na produção de calçado feminino por mais de 50 anos...
Infelizmente tínhamos poucos retratos dela trabalhando- sendo esse estudo em pastel seco uma alegoria a um instantâneo fotográfico de jornal em que numa espécie de "oficina",  tratava de consertar uma dessas preciosidades   de costurar calçados...
Junto a mais alguns retratos a pastel seco, fizemos uma pequena Mostra de Retratos no saguão da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, no início da primeira década do terceiro milênio (ora veja que coisa estranha falar assim mas é o tempo de então).


Quando se fala em retrato - tudo que se imagina é algo fidedigno- que se pareça com a pessoa retratada ou que traga algum traço de sua personalidade e muito se reverencia a caricatura a qual põe em relevo essas características mais marcantes das pessoas retratadas.
Acho que fazem parte do aprendizado  as dificuldades de aproximação com a figura humana retratada e não considero traumáticas propriamente - as críticas de quem não encontra semelhança alguma com a pessoa que posou ao vivo assim como de alguma foto que serviu de referencia...
teria muito a dizer sobre essa vivencia que completa mais de 10 anos retratando ao vivo - pessoas de todas as idades, mas o faremos  aos poucos...
Hoje é dia para ela - Dona Ella- guerreira e forte , pioneira,inteligente, meiga e firme segundo relatos dos que a conheceram- a cuja memória somos gratos- pois estar ali, no  espaço sagrado que foi seu trajeto de trabalho, é um previlégio que muitas vezes nos perguntamos  -como aconteceu comigo?! 


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pintaram violetas no pedaço...


Pintura em aquarela -Natureza morta- violetas. 
Fatima Mohamed Abrão- 1996.


Não sei o que que eu to fazendo que não to pintando nada... 


Queria compreender com é que se pode querer tanto uma coisa - e não conseguir...como se uma série de amarras impedissem e não se podendo vê-las ficassemos
aturdidos e paralizados...
Não sei se são os bloqueios de que se fala por aí, ou apenas uma indisciplina;- e se for? Falta de rotina...pegar as coisas  e trabalhar...afinal tá tudo sendo falado prá acontecer um evento ...tudo mobilizado para comemorar vinte anos de trabalho em arte e não se fez nada... até agora...
Será falta do que dizer? 
Ou de muito a explorar e indecisão -
quando começar...!?
Uma das fases- se é que se possa delimitar esses anos- 
foi recheada de violetas... delicadas, pequeninas,outras exacerbadas até, mais adiante- distorcidas e reformuladas - resultando em florais diferentes... diria -:experimentais...!
Ainda muito sentada- quero dizer - usando uma mesa; em folhas de cançõn, fabriano, vergê, só papéis maravilhosos, e aquarela - sakura da boa e pincel de marta tambem do bom... (embora hoje já sejam condenados)! Precedeu esse trabalho, um ano mais ou menos de coleta, desidratação e confecção de cartões e marcadores- com violetas que caiam dos galhinhos dos vasinhos das amigas,  tendo anotado e numerado a todos eles e assinado, 
totalizaram mais de mil...
Esse exercício foi na verdade uma linda introdução
as pinturas de aquarelas de violetas... 
vendemos muitos desses trabalhos emoldurados ,
por um dinheiro que possibilitasse  continuar trabalhando...apenas!
Não dispomos de fotos de boa qualidade deles, 
mas nem sempre todos ficam bem 
e o que guardamos conosco, são as sobras 
desse tempo...feliz.
Gosto muito de flores, quem não gosta, não é?
E só não pretendi que fossem retratadas fielmente mas sugeridas e inspiradas nas reais, embora tenha realizado alguns trabalhos que vieram de observação direta do real...mas poucos...
Nesses dias em diante, quem sabe - nos aproximemos mais do que se produziu até agora, para poder fazer um trabalho novo se der...para comemorar vinte anos, ou apenas para não deixar tanto tempo passar sem pintar, quando isso nos faz muito , mas muito felizes...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Helena Kolody é igual a poesia...



Helena Kolody é igual a poesia.


Incrível como cresci ouvindo sua poesia , quando era lida nos programas de radio , lá em casa...
Mas mais que isso- nos livros que minha mãe adquiria, ou trazia da biblioteca pública para suas leituras e a gente curiosa , tambem queria ler e ainda declamar - interpretar a beira do fogão a lenha , geralmente antes de ir dormir, logo depois da janta. 
Hoje , poder homenageá-la assim rapidamente, 
sem uma pesquisa última de sua obra 
que é maior , muito maior que a gente, 
é apenas fazer-lhe um carinho, 
uma pequena retribuição pela presença incrível
dessa pessoa na nossa sociedade curitibana,
que a admira e cultiva com muita consideração,
com certeza. 
Então um pouco de sua poesia ...

VIAGEM
Helena Kolody(1964)

Era um pássaro triste:
Andorinha exaurida
a viajar para longe.
Em suas asas  tremia
um prenúncio de morte

A árvore acenou da distancia
Um fraterno chamado.

Repousou a andorinha
E sonhou longamente,
Acordada.
E, foi aquele sonho , a vida.


A POESIA IMPOSSÍVEL-Helena Kolody (1964)

Inquietação de marinheiro
Que sente o mar e o seu chamado...
Não pode embarcar!

Prisioneiro do nada,
Pássaro mutilado
Que a distancia fascina... 


EXÍLIO - Helena Kolody (1964)

Somos tão estrangeiros nesta vida,
Tão sem lar!

Vivemos sempre doloridos e insatisfeitos.
Há sempre uma farpa aguçada
Cravada num nervo sensível.
Em tudo sempre uma ausência,
Um travo de imperfeição.


sábado, 12 de maio de 2012

MAximo Gorki e sua obra mais fascinante para uma mãe

MÁXIMO GORKI  e sua obra mais fascinante para uma mãe-


Assim como Jorge, jornalista e blogueiro do Jornal de Notícias  Portugues,
a mim marcou profundamente a leitura da obra de Gorki- A mãe.
Quando o li , foi num exemplar de folhas de papel jornal - num tabloide inteiro por esse texto do qual não me lembro quase nada a não ser que fiquei maravilhada...e estarrecida.
Ontem queria escrever algo sobre essa figura de retórica - a mãe, e lembrei imediatamente dessa estória- de uma mãe que vai visitar seu filho , preso político ... cujos diálogos Gorki produz magistralmente ,sobre esses dois seres humanos com as suas liberdades cerceadas brutalmente...nos fazendo ver e ouvir tudo que sentiam mãe e filho naquela triste situação  por preferirem o lado dos que sofriam no cenário da Russia de então...
Não posso deixar de alegrar-me em encontrar ao menos um autor que tivesse feito a mesma busca recentemente como eu, no caso esse rapaz - Jorge, jornalista há quase trinta anos, que relata sem delongas -..."como  A mãe de Gorki " mudou a sua vida...em postagem do dia 5 de maio último no referido Jornal.
Vale a pena um reportarmo-nos ao autor em questão- Aleksei Maksimovich Peshkow (28.03.1868-18.06.1936) é preso em 1890 e em 1892 adota o pseudônimo de Maximo Górki. A complexa e brilhante trajetória desse homem merece que nos detenhamos em outros momentos e o faremos com certeza. 
Seu envolvimento político o leva a prisão muitas outras vezes e sua mãe falece em 1878; nove anos após, escreve e publica A mãe, em Capri, quando vivia na Italia por causa do clima diante de uma tuberculose que sofria. 
Pelagueia Nilovna era a mãe e Pavel Vlassov, o filho.
Num trecho que Jorge transcreve, o filho responde a pergunta da mãe sobre o que andava lendo...
...-"leio livros proibidos.Os livros são proibidos porque dizem a verdade sobre a nossa vida de operários .São impressos as escondidas e se os encontram aqui 
metem-me na prisão porque quero saber a verdade..."
Gorki teria dito - que :..."não é com sangue que se há de sufocar a razão";
 se disse ainda de que ele veio
"...para não estar de acordo"...!
Sua obra A mãe, foi considerada a:" primeira pedra da estética do realismo socialista" .
O depoimento de Jorge, nos cala fundo quando relata que leu a obra de Gorki  aos 15 anos, por empréstimo de nem sabia mais quem... que encontrara e comprara outro volume para si, mas que não conseguia abrir para reler, por um sentimento de temor em desiludir-se; em não sentir mais o que sentira anos atras...
Que tinha agora, na mesinha de cabeceira -"o magnífico Thriller de Daniel Silva (The perfect Spy) e dois guias de viagem - o DK de Florença e o Rongh Guide de Italia  " pois pretendia dar " uma volta na Toscana".
Gorki morre aos 68 anos consagrado como escritor. Fiquei assustada por não encontrar referencias mais alem dessa , sobre esse escritor monumental que pelo menos imortaliza a figura social de uma mãe, figura tão dizimada e vilependiada na história contemporânea, como se não pudesse valer mais alguma coisa pelo enorme esforço que faz em resistir bravamente ao ver um filho humilhado , indo para uma guerra dessas em que nem se sabe direito qual a razão última do embate...por isso reiteramos que sim sabemos das lutas do cotidiano que temos em nossos dias de hoje e reconhecemos a dificuldade de exercer a maternidade com mais presença e qualidade; mas sentimos que a melhor coisa para o coração de uma mãe
é ter para seus filhos um mundo de Paz...

CAMINHOS DAS MÃES...

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  Estudo de figura humana - realizado em 2010, de modelo vivo por Fatima Abrão




 Caminhos das mães...
Fazemos nossas postagens desde fevereiro de 2012. Encontramos com muita satisfação esse espaço e precisamos dizer que realizamos um sonho de pensar mais que nada...num esforço de ruminar as tantas referencias de que temos nos alimentado modestamente ao longo da vida, cuja sorte torna as vezes limitadas e superficiais outras , surgem como elaborações inéditas de cunho variado- um , poético; outro uma crônica; se é que se possa identificar um estilo... mas digamos que nos aproximamos mais da crônica de época, dessa em que vivemos e em que vemos viverem os nossos mais próximos- amigos , familiares, vizinhos, pessoas , lugares relações, história da arte, artistas, filósofos, gente que nem a gente, bem comum, mas que quer ser artista, quer ser pensador de  tudo que vê e ouve, quer mais é ser mais do que é... mais assim que nada!Num tributo ligeiro , faço pausa para render graças a minha falecida mãe Regina , de origem polonesa de Cracóvia, do clã dos Ribatski, que no Brasil, se instalaram pelo final do século dezenove (mais ou menos 1890- meus avós teriam vindo para uma cidade do interior do Paraná), cuja energia inesgotável nos colocou a porta da biblioteca pública de nossa cidade, e nos levou a todos os acontecimentos culturais marcantes para nossa formação em todos os sentidos: popular , erudito, multicultural e étnico.Para ela, estudar sempre, ler muito ( tudo), localizar-se no espaço geopolítico, aprender e desenvolver habilidades artísticas para tornar-se um ser mais pleno, livre , competente...eram obrigação primeira...Os tempos em que se deram as guerras mundiais, marcaram a vida dessas pessoas que tinham origem estrangeira por várias razões mas principalmente por terem ainda em seus lugares de origem muitas pessoas da familia a quem talvez não voltassem a encontrar jamais...Um dos tons mais fortes dessa identificação com o sofrimento da guerra, embora estando longe da europa de então, era os marcantes sacrifícios que se obrigavam a fazer para sobreviver.Restrições de todo tipo, desde os pães que se fazia em casa com uma farinha grosseira e pesada pois era a única que existia.
A idéia ao reportar esses fatos ligeiramente é mostrar que o valor da vida fica muito mais relativizado numa guerra e não podemos imaginar exatamente por não temos estado nem perto desse tempo; mas o empenho na formação de um tempo de Paz - ou de guerra não tão extremamente globalizada como o foram as duas grandes registradas, nas mentes e nos corações de gerações que as presenciaram, ou herdaram seus traumas, suas dores e memórias abomináveis...Uma geração nova, sem esses resquícios de horrorres, pode vir a existir daqui a alguns anos. Um pouco forçado dizer isso - como se não houvessem ainda grandes e diferentes pontos de conflitos exacerbados no nosso planeta...para onde muitas mães continuam deixando ir seus filhos sem que possam fazer nada...sonhar com um tempo de Paz... é tudo que uma mãe pode carregar no coração...     

sexta-feira, 11 de maio de 2012

MARMELADA DE MÃE - nectar dos deuses

Um cenário - 


Os olhos da mãe da gente são como janelas da alma que nos ajudam a enxergar a vida , o  mundo, na simplicidade com que se apresentam , nas lutas de dia a dia, preenchidos com memórias, canções, ritmos, empenho em acompanhar o resto do mundo do seu pequeno canto e sair por perto, por ali, para não ficar "socado" sem ver nada lá fora...
De vez em quando, um cinema- na matinê do auditório da paróquia - em tempos de Flash Gordon; noutros momentos, o circo dos Irmãos Queirolo perto da escola no terreno baldio...
Em junho - festa- das mais lindas- pois desciam de um bairro de italianos suas carroças enfeitadas de badeirinhas de papel de seda, com gente tocando gaita, fanfarra, era de subir nos barrancos pra ver mais lá de cima...
Muitas e muitas procissões dos capuchinhos  a pé, claro...que se esperava passar na frente de casa para daí seguir com eles rezando e cantando...as vezes descalços para ser mais fervoroso... 




A mãe sempre com a gente- a mãe.
Que beleza... um pouco pai , um pouco mãe- os dois!
Quando aos berros, nem devia, mas fica parecendo um homem brabo, subindo nas tamancas e barbarizando horrores o ambiente... ufa, que alívio quando o temporal passava...ainda bem- ele passava.
O sossego volta, e a casa fica em paz. Ai , sim - uma varinha de marmelo - que acho que a pedagogia imprimia que todo quintal que se prezasse tivesse em  um canto -um marmeleiro- ( que não servia prá mais  nada; o doce do marmelo era horrível...) daí a expressão : marmelada... ser uma marmelada literal !No sentido de ser puro açucar com um cheiro da fruta...apenas...Pensando bem- era pra despistar, essa do doce... era pra tirar da planta aquela varinha fininha.... terrível!
...Se batia na perna era um vergão imediato que aparecia e ardia e doía pra danar...Ficava lá- encima da porta, encaixadinha no batente...
A gente, em criança olhava lá de vez em quando para ver se ela não tinha sumido... Que esperança!! Empoeirava , desempoeirava e continuava lá...Até que as vezes era engraçado...!!Se sentir ameaçado o tempo inteiro por uma reles varinha de marmelo...!


Um pouco pai um pouco mãe...- os dois!
Era preciso; se obrigava a pensar por um e por outro
já que com ele, não podia contar...e não era só
lá naquela casa;... em quase todas: os homens entravam e saiam... e à sua saída e à sua espera ficavam sempre providencias tomadas pela mãe, pela esposa, pela mulher...senão a casa caía!
Pelas 5 da manhã, seis o mais tardar , já de pé.
No quartinho de costura, que era mesmo pequenino,  
de uns dois metros por tres, estava a máquina Neomann (não recordo direito como  se escreve) , caixas com materais de todo tipo, encima delas um radio poderoso (de válvulas ainda, com caixa de madeira)
ligado fulltime...
As estações mudavam pouco , sendo que das novelas... não se perdia por nada- seus capítulos...e como hoje- 
se falava no assunto na fila do açougue, 
do armazem... no ponto do ônibus  e nas esquinas...
Alem do radio da máquina de costura , uma cadeira com acento de palha como eram as outras cadeiras da cozinha que ficava contígua   mas em separado claro; alem da cadeira, uma mesa para passar roupas... 
muitas roupas...que há um tempo foram renda- 
eram lavadas e entregues bem passadas a duas ou tres senhoras que lá buscavam... 
Cansava de ve-la inteira molhada dos pés a cabeça 
apesar de estar com um dos seus esquisitÍssimos aventais...feitos por ela com bolsos grandões para caberem os grampos de roupas e facilitar na ora de estender tudo aquilo nos arames...Tudo era quarado...na grama ...
e regado varias vezes para clarear,
limpar, com um enorme e pesado regador.
Os arames eram monitorados, vira essa peça prá lá, vira prá  cá - que o sol caminha e tem que se ir atraz...se quizer vencer o dia e ter tudo seco como era preciso...tendo dia prá entregar...
Sofria de reumatismo, como não? Naquele tipo de coisa úmida...?! Não era uma lavanderia confortável, nada disso... e não havia encanamentos - a valeta de escoamento tinha ela mesma que abrir -volta e meia, com uma de suas enxadas...Houve um tempo em que precisou ir fazer faxinas em duas vizinhas para completar o ganho para viver; e aumentar a dose de roupas para lavar pois senão- não ia dar o dinheiro, pra tudo que precisavam. 
Mandou fazer um carrinho de madeira espaçoso 
e sua filha ia lá levar barroca abaixo, barroca acima...
até a casa de um; até a casa de um outro.
A ruas eram ainda de saibro, poeira- sim, muita...ainda bem que tinha tantos automóveis como hoje em dia... 
Mas era poeira suficiente pra complicar 
e como só tomavam banho completo no sábado,
enfiava a cabeça numa bacia e alguem - senão a própria mãe jogava umas canecadas de àgua e ensaboneteava e esfregava e enxaguava e pronto;... tinha que ir pro colegio , precisava ir bonitinha.
A escola ficava a tres quadras. Era um Colégio de Irmãs -vicentinas, fazia questão de seus filhos em boa escola... queria que aprendessem tudo de bom para serem mais fáceis suas vidas quando crescessem- só o estudo podia garantir um futuro...melhor.
A casa já era deles - dos filhos e eles sabiam- estava no nome deles para que nem pai nem mãe "botasse fora" o patrimônio que ja  vinha de união de dinheiros tanto do pai como da mãe...
Tinha sim fogão a lenha, e era preciso comprar lenha, buscar sacos de sepilho na serraria da Casa de construção do bairro e trazer na cabeça ou naquele carrinho de madeira de entregar as roupas ...sim tambem se comprava lenha em metro e tinha que picar com o machado num sepo no chão para que fossem pra caixa de lenha e pro banco de lenha na cozinha...
Então, tinha um machado menor-pra picar o pedaço em quatro... para entrar na "boca " do fogão...mais facilmente...Ah, as vezes se machucava, como não?Mas havia sempre dois vidrinhos no armário de remédios- um de iodo, e outro de mercurio. Sim: ainda um terceiro de agua oxigenada que era usado pra desinfetar primeiro o lugar e depois mercurio, e pó de sulfa prá sicatrizar...Sarava logo.


Um pouco pai, um pouco mãe, - os dois!
Olhando assim podia dizer que eram gente sem importancia nenhuma...De vida modesta, de trabalhar no pesado, de não sentir preguiça nunca...Começar com o sol e terminar com ele um dia cheiinho de coisas prá fazer...sem parar , sem parar...
Passear? Havia uma amiga querida do tempo da juventude , suas mães polonesas eram amigas e então com ela podia falar na língua materna, pra não esquecer...
Desde que sua própria mãe falecera seis meses antes de sua filha nascer, ficara sem ninguem por perto para esse deleite de trocas culturais e sensíveis na cultura dos pais...
Ela e Bárbara, eram muito leais.
Mas era uma senhora caminhada
até a casa de uma ou de outra. Mas era o passeio dessa mãe e dessa filha... ir lá visitar a Bárbara...a pé claro. Olhando as casas , parando para admirar e dizer ah- queria ter uma casa assim, queria ter uma casa assado, olha que lindo esse jardim, olha que chão de varanda tão encerado...reparava-se em tudo...
Às vezes escolhia algum cacareco do chão de lembrança daquele dia... uma pedrinha , quase sempre...
A filha - ficava sózinha, sentada no quintal, olhando as plantas, comendo frutas maduríssimas que ficavam a espera dela- não eram senão - o nectar dos deuses!
Na saida , podia ser que merecesse uma rosa do jardim, das mais lindas que tambem ficavam a espera da menina, pois como a amiga não tinha filhos só sobrinhos, meio espoletas, essa outra criança levava então, esses carinhos nas mãos , no estômago e no coração... 



Carta a minha mãe:


"...Maio de 1971.


                          Chuli querida:


A gente vive num mundo tão triste mas enfim é o nosso mundo.
Nada seria bom se a gente  não gostasse 
de quem gosta da gente.
Maminha sabe que eu não sou nenhum ideal de filha,
que sou resmungona, explosiva e indelicada;
mas será bom saber tambem 
que tão logo expludo ,
me apago.
Me arrependo e tenho vontade de falar
que não quero mais ser assim.
Sabe, eu nem sei quanto que eu tenho 
que não haja me sido dado pelo seu carinho,
pela sua dignidade, pela sua santidade.
Toda vez que eu penso em o que vai ser a minha vida
não concebo  que seja nada  sem a presença,
que não é só presença mas é benção divina!
Querida mãezinha, não leve em conta
só o que aqui encontrou escrito.
Tudo que eu penso da senhora de bom ,
tudo que eu gostaria de dar
não para retribuir tudo que eu tenho
mas porque a senhora merece mais...mais
muito mais!
sua filhinha ,


Nenê."

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Migrar para fugir da pobreza?











                                    ..."migrar como a mais antiga ação contra a pobreza..."


...Uma constatação última de processos e movimentos de produção social de bem estar no conjunto das sociedades humanas que dialogam no espaço político
em que forças que demandam mais ou menos trabalho
desse ou daquele canto do mundo...compreender
a organização internacional do trabalho -pede estudos continuamente- mais que isso-: com a virtualização do acesso a informação , torna-se imperativo que esses estudos alem de ocorrerem cheguem com seus resultados ao alcance da população que estando no estrato imenso da pobreza- vai ao sabor dos interesses urgentes da produção econômica- quase sempre sem opção...
O que torna os Estados Unidos garantia de sobrevivência não será com certeza uma unanimidade - poder ser um migrante mais vivo lá que em seu lugar de origem, não significará que lá os naturais - são sofram a pobreza em escala talvez proporcionalmente idêntica- pois o sistema que exclui é o mesmo...
De que modo o Brasil vai enfrentar essa reconfiguração de forças aparente - vai  ser visto com o andar da carruagem... depende de nos decidirmos até certo ponto- que tipo de relações internacionais e internas ao nosso país queremos desenvolver... e para nós - não mais...; talvez para a próxima geração, com um pouco de sorte...senão para muito a frente ainda...
Com certeza o cerseamento da mobilidade espacial não é democrático porem, tomar decisões  sobre o uso  e ocupação do seu território e patrimônio cultural, tornou países que hoje vivem da industria limpa do turismo, por exemplo, lugares de renda interessante para os trabalhadores e com conquistas de desenvolvimento cultural notável...
Compreender quem pode determinar como uma cidade vai ser num longo prazo - é tarefa das gerações de agora, como o terá sido sempre... mas hoje com instrumentos muito mais ágeis, podemos nos poupar sofrimentos coletivos desnecessários  quem sabe!
Não se subtrai das injunções do jogo político nenhum dos segmentos sociais... no entanto... o que habita a esteira da pobreza está vulnerável aqui e em qualquer lugar que seja;...iludir-se de que será na aventura da migração que se salvará...pode ocultar sofrimento muito maior do que ficar e lutar em seu lugar de origem por tempos melhores ...mesmo sabendo- que ao olhar para traz, verá os que no inicio migraram , abriram picadas na mata, com calos nas mãos, ergueram suas moradias e economias...
No entanto um dote tiveram naqueles tempos, que foi decisivo para que tivessem começado um novo tempo- 
o acesso a terra.
Um lugar seguro , pode ser ponto de partida mas não só, não o único...mas é indispensável...ou vamos aplaudir para sempre as cápsulas de dormitórios do mundo asiático ,onde se recuperam, nos intervalos de almoço, os trabalhadores, como se mais nada pudessem desejar?
O espaço é concretamente limitado mas pode ser administrado, como tudo , a favor do homem e do conjunto dos bens naturais...estamos em processo- aprendendo- mas, concluindo mais aceleradamente nossas lições...podendo com vontade política e sensibilidade apurada das lideranças  atingir maiores contingentes com medidas humanitárias e de trabalho e renda...
Depende de nossas escolhas avançarmos mais... com responsabilidade com o= hoje difícil- que temos de enfrentar e com um amanhã mais avançado do que podemos imaginar solitariamente - pois o conjunto das iniciativas vai configurar esse novo mundo- melhor de viver, e nos instruirmos  em todas as horas é dever de ofício...




(cometário de Fatima Abrão ao texto de Liliane Arisi -" Mitos nacionais- Preconceitos culturais"
 in :Artigos , Cultura, economia, Política/Tags-globalização, Haiti, imigração- (05.05.2012) Cinco TI)