sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ciclo da vida ao natural

Ciclo da vida ao natural...

Fatima Abrão- Gazometro - Porto Alegre...2013-agosto


Um final de dia a mais ...
poderia ser 
mas não é... 
Veio depois de um temporal dentro
para não dizer que transbordou
e passou a escorrer ali ... fora... tambem!


Os dias tem dessas coisas que nos fazem pensar que tudo está terminado 
que não temos mais para onde ir , nem com quem contar
e que o que precisamos é de deixar rolar- olho afora- toda a agua acumulada no organismo...

Li num desses livretos de macrobióticos
 que as lágrimas caem por excesso de agua no corpo!

Depois parece estarmos em um ambiente interno leve, 
como se afinal - tudo que estava para arrebentar as comportas- nos oprimindo...
se esvaziasse e voltassemos a serenidade 
de um dia a mais...

Até o próximo vendaval... como que num ciclo natural 
de estados em que se chocam nossas energias materiais, físicas, líquidas , gazozas, 
com os nossos limites internos 
nos deixando sem saída... 
Nada podemos fazer... para evitar
 a chegada dos temporais nascidos em outros quintais... 
e que nos pegam no caminho... nos arrastam para o desolador desabrigo
em que o físico - é só um  deles...
há os que ficam cá dentro  na alma 
e que 
não contam nas estatísticas 
até porque seria pedir demais
 considerar-se a alma de um povo...
melhor e mais fácil pensar nele como um corpo 
andando e só -!


Hoje a noite , desci do ônibus
 numa calçada repleta de folhas secas 
e muitas flores de Ipê cor-de-rosa...
num tapete lindo e suavemente composto
 por um vento 
que poderia ser dito - um qualquer...: imagina!

Mas quem as disporia desse jeito?
...e nesse colorido -misto de outono,
 que se despedindo- as abranda a queda,
 deixando folhas - pequenas mas belas em tantos tons, formarem com as flores um instante de abrigo 
aos pés cansados...
num tapete natural de Deus fazendo rir 
pois ontem ainda , me sentia pobre
num abandono terrível de minha sorte...
e hoje mesmo podendo ainda sentir alguma dor,
obrigo-me a agradecer
essa estranha e sólida e palpável 
presentificação de fortuna e alívio 
mesmo que apenas valorizada por alguns
 que passem nessa calçada do meu bairro na noite escura... 

 Mais adiante o perfume de algum tipo de jasmim...

Na janela de casa -aberta, o florescimento de laranjeiras 
faz que venham com a brisa ,nesse dia ainda noite,
perfume forte e leve ; onde estou posso respirá-lo gratuitamente ...
 mesmo que pense no fruto delas - 
suas laranjas...
 vieram como um bálsamo 
noite adentro desde ontem ...
 calmaria!

Os olhos doem de chorar -eis algo que é  preciso concordar
nem precisaria 
nascer e crescer
num dia desde que essa seria a vida
 de grande agonia
em que nosso melhor espelho se turva e nem vemos
com os olhos marejados
nada daquilo que queremos.

Ver e existir
produzir um tecido num papel 
de figuração humana dessas 
que se posiciona em nossa frente 
despida e entregue a um momento 
de reflexão e fixação
de sua imagem colorida por um tipo de posinho de giz
que se espalha com os dedos 
em circulos de vida do retratado e do artista...
nem sempre o fazendo para o que ali se senta...
mas nem sabendo bem para quem;

pode ser , quem sabe- que seja até para si mesmo
como um arbítreo, um simples e inconfesso gesto de usurpação de toda natureza humana que ali se encontra em apenas uns poucos minutos... num diálogo inacreditável e silencioso entre nós ... onde o que menos importa é o que resulta como uma especie de obra...
mas tudo que se passou nesse momento entre as duas pessoas ou todas as que estiveram presenciando  o que aconteceu... ali ao olhar de todo mundo...

mais que um exercício de desenvolvimento - fogem todas as significações diante do tudo que ignoramos sobre a vida uns dos outros...

sofremos pela profunda falta que sentimos de estarmos mais 
próximos ou sermos mais importantes pra alguem
do que realmente somos
como algo assim 
possível só mesmo quando nem estivermos mais aqui...

como no que fica 
concebido como um legado...
sendo ou não 
de alguma fortuna
podendo isto sim ser apenas 
uma pista de algum percurso 
trilhado por alguem -
qualquer um, 
um dia
num ciclo comum de vida natural...

se não escreve, não pinta, nada parece ter feito
ou realizado no mundo... mesmo esse seu
 pequeno mundo que só prá sí 
signifique um mundo! 






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