sábado, 20 de outubro de 2012
O que ela escreveu e o que eu li :
O que ela escreveu e o que eu li:
Uma porção de frases curtas.
Cheias de verdadeiras descrições claras sobre tudo que tratava.Quando falava de aparências era seca e precisa; quando ia aos sentimentos tambem os tratava como racionalmente a qualquer lista de coisas...
Ficava claro, fácil de ler o que estava escrito.
Estou me referindo ao livro de Clarice Lispector-
"A hora da estrela"- do qual destaco alguns trechos :
...."Devo dizer que ela era doida por soldado?Pois era."(...)"
Ela tinha um luxo, alem de uma vez por mes ir ao cinema:
pintava de vermelho grosseiramente escarlate as unhas das mãos. Mas como as roia, quase até o sabugo, o vermelho berrante era logo desgastado e via-se o sujo preto por baixo.
E quando acordava?
Quando acordava não sabia mais quem era.
Só depois que pensava com satisfação:
sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola.
Só então vestia-se de si mesma
passava o resto do dia representando
com obediencia o papel de ser".
(1984-57-8)
"...A maior parte do tempo tinha sem o saber o vazio que enche a alma dos santos.E ela era santa? Ao que parece.
"...não sabia que meditava pois não sabia o que queria dizer a palavra...
Me parece... sua vida... era uma longa meditação sobre o nada.(...)
Só precisava dos outros para crer em si mesma..."
"..preciso tirar vários retratos dessa alagoana..." a moça é uma verdade da qual eu não queria saber..."
"..Será que entrando na semente de sua vida estarei violando o segredo dos faraós...? terei castigo de morte por falar de uma vida que contem como todas as nossas vidas um segredo inviolável?"
(1984-60-1)
Fora a uma cartomante. "..assim como havia a sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida..." ".. e ao dar (o primeiro) passo...descendo a calçada-
enorme como um transatlantico o Mercedes amarelo pegou-a..."
(autora e narrador dizem:-"...vou fazer o possivel para que ela não morra...mas que vontade de adormece-la e eu mesmo ir para a cama dormir"...)
...turbilhão: (ela chama de explosão")-censurar os culpados?, é preciso perdoá-los.. "chegar a tal NADA
que indiferentemente se ame ou não se ame
o criminoso
que nos mata.
...devo perguntar...devo amar o que me trucida? e perguntar: quem de vós me trucida?...minha vida... quer porque quer
vingança e que devo lutar com quem se afoga... mesmo que eu morra depois..."
(1984-104-6)
"A morte
é um encontro consigo... Macabéa me matou...ela está enfim livre de sí e de nós... morrer é um instante ,passa logo eu sei porque acabo de morrer a moça.
Desculpai-me essa morte.
È que não pude evitá-la,
a gente aceita tudo porque já beijou a parede.(...)
Viver é um luxo!"
"... O SILENCIO É TAL QUE NEM PESAMENTO PENSA"...
Morrendo ela virou ar.'
(1984-111)
"Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre!
e arrematam autora e narrador-"...Mas - mas eu tambem?"
(1984-112)
Numa terceira versão de leitura , fico devendo outras observações feitas e perdidas no ar...cibernético... não deverão importar por certo...quem sabe lá... Numa dessas idas ao texto muita riqueza e pobreza nos veste e despe... enrola e desenrola, acusa e anistia de tal modo que vamos encontrar nem verdades nem mentiras, uns reflexos uns raitos pelas frestas, entrando em nosso quartel, ali onde fica nossa prontidão perpétua - soldados rasos , pelotão sem forma, guardando o castelo, esperando para lutar... ou fazer qualquer coisa, até morrer...Na racionalidade proposta de início- onde a autora diz-
...."Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida"...
Afinal que estrelas são essas
cujo brilho vemos
e que já mortas são? Serão uma , duas, quantas Macabéas serão?Uma coisa é certa- a sua hora - todas terão... estranho trecho de literatura igual... em todo autor... sempre igual...
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