sexta-feira, 6 de abril de 2012

Mohamed Abrão - recordações de Páscoas..

                                                  






















MOHAMED ABRÃO   
(SIRYA-1908-BRASIL-1983)
Desenho a grafite de foto 3X4-
Fatima mohamed abrão.




Mohamed Abrão- ou seu Moamede, ou seu Zeca, como era chamado, era meu pai.Muçulmano , fiel a sua origem árabe, nascido na aldeia de Dreikiche, na Sirya, veio para o Brasil com mais ou menos 18 anos, aventurar-se como tantos imigrantes o fizeram e acabaram construindo juntos um país...multiétnico de formação, de feições fenotípicas, de expressões culturais...


Com essa tradição , não comemorava a páscoa mas não deixou jamais de ir com a gente pequenos ainda, as mercearias de então, encher cestinhas até que não se pudesse carregar- tal seu espírito presente em seu contexto sociocultural predominante- sua alegria em fazer a alegria da gente... quando estava nos seus melhores momentos...


Quando eu nasci, 1954, ele devia estar com mais ou menos 46 anos, e embora fosse corrente -a tradição árabe se fortalecer em seus filhos masculinos, como de resto praticamente em várias outras culturas de então,
não senti jamais descriminação entre meus irmãos , meninos. Fui muito amada, mesmo que a olhos mais argutos seja possível fazer outra conta - em que soma , diminui, multiplica, divide- pode ser que não fosse tudo isso.Mas para mim- foi um pai muito amoroso. O fato de não ser alfabetizado  em escola no portugues, escrevia em letras de forma  , esforço próprio em que demonstrava se defender muito bem...Alem de ouvir rádio , o que era indispensável á epoca para estar a par dos acontecimentos no mundo, meu Mano Ali, lia para ele os jornais - e principalmente as notícias do oriente.Dever que quando esse irmão foi para a aeronáutica, servir em São Paulo, ficou para mim... ler os jornais para o papai, quando ele pedia...em voz alta, caprichando para ele entender bem...Aparentemente muito severo, era também muito alegre- tocava flauta árabe e tinha um talento dramático natural, que explorava com muita energia , fato que o fazia muito rodeado pelos amigos da colonia árabe, da cidade...em outro momento ainda vou contar mais de nossas histórias que tem dores, não só nossas pequenas glórias, mas mias que isso- são nossas , nos pertencem, fazem o que somos mais fortes e verdadeiros, independetemente se atendem ou não a todas as melhores expectativas da sociedade em que crescemos e vivemos, pois descobri, fato concreto- que todas as familias são iguais em suas lutas íntimas para não esmorecer diante de muitos momentos em que os seus membros simplesmente não se identificam em quase nada uns com os outros...como se sempre tivesse havido um grande engano quando Deus nos legou esse e não aquele outro nucleo para nascer...
O aprendizado maior reside justamente nesse caminho que se faz para encurtar as diferenças, aumentar as identificações , estreitar os laços , tornando secundárias todas as divergencias, e contando os anos em resultados de harmonia e entendimento, em que muitas vezes é preciso dar razão ao outro embora tudo que se quizesse era retê-la para si...
Negando a fraterna ligação, em que não há a mãe, não foi tão presente o pai, nem e ainda muito menos  os irmãos, esse "Ser não fraterno" em que parecemos nos converter, dragões, monstros cinematográficos , tudo menos gente... como as outras gentes,  fica
em evidencia .
Nada como um  espírito construido pela cultura- o espírito pascal- em que a idéia de renovação se perpetua, para que ainda acreditemos no poder de transformação que tem nosso círculo imediato de referencia, mesmo que seja imperioso levar em conta o resto do mundo que nos circunda como algo de semelhança  conosco e não de apenas correção ou negação...Somos parecidos nas limitações e nos alcances...tudo que falta em um , em geral falta no outro, e assim vai da valsa como diria minha mãe...Talvez a diferença de estar em uma experiencia de mais polimento do que em outra , possa fazer diferença, quando observamos que ainda nos faltam muitas coisas a perseguir para sentir a satisfação plena de pertencimento merecido , conquistado - na familia como em tudo na vida - não se usurpa... nem se ganha assim no mais... se deseja, se luta, se supera tudo e chega a ser mais fraterno, mais cúmplice de felicidade e harmonia...mais sinceros e verdadeiros, menos opressivos e paralizantes...Como em todos os enredos, mais independentes se tornam a medida em que saem dos ninhos, e cada um dos membros que cresce distante um do outro, acaba por falar um dialeto novo, as vezes dificil de entender, outras irremoviveis...mesmo sem sentido, não se comunicam , talvez porisso mesmo...e torna-se estrangeiro - o filho para o pai; o pai para o filho; a mãe para o filho; o filho para a mãe; seres não fraternos...que necessitarão de renascer uns par aos outros  se for desejo sincero de valorizar-se cada um no seu lugar de destino dentro dessa estrutura- onde cada um tem seu papel definido - sem invenções maiores desde que o mundo é mundo... os laços estão antropologicamente configurados e só Deus ocupa todos os lugares ao mesmo tempo...



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