quinta-feira, 19 de abril de 2012

Regresso




































         Minha casa no morro - desenho do imaginário a grafite
            acompanha o texto a seguir datado de 30 de outubro
                  de 1987, em Hamburgo Velho.


Então vi lá... no lato , bem claro ... o morro.
Um morro pelo lado de lá da estrada...
Pelo meio , muito recheado de casa.
com muita gente morando e vivendo a vida do seu jeito de viver, como pode. 
È um trechinho curto , não dá nem dois metros de intervalo das construções, aqui quando atravesso  a rua e venho vindo para o trabalho . 
Não sei porque tenho uma paixão grande por aquele morro.Quando tem sol e o ceu está limpo, ele fica mais próximo, ve-se bem as suas arvores.
As vezes imagino que estou indo no fim da tarde, por um atalho, para casa e que minha casa fica lá encima .Que espécie de felicidade isso me dá eu não sei ... só sei que estou enamorada daquele morro .Que se eu pudesse faria alguma coisa para poder morar lá.
                  Penso que poderia ser muito doce ter uma cabana de tronco de arvore daquelas bem fortes que o vento não leva...Um fogão de lenha de tijolos a vista, ou quem sabe de pedras...com janelas de esquadria de madeira com vidros pequenos, em quadrado, retângulos ou mesmo losângulos, com vista ampla, e onde de manhã batesse o sol; do lado de fora- tem que ter pencas de gerâneos , caindo , coloridos, lindos...
Uma cadeira de vime, daquelas bem simples, gostosas , com almofada bordada, só não sei de um , dois ou tres lugares?
Talves seja mais confotável ter-se cadeiras individuais... Do lado
de dentro vazinhos bem lindos de violetas...Junto da cozinha, uma pequena dispensa onde colocar os mantimentos...Não sei como poderia ser feito - o caixão de lenha para não ficarem os bichinhos caminhando por todo o lugar...Ah! Acho que teria que ter pelo menos uma vaca de leite...E uma galinha poedeira... e um carneirinho pastando pelo quintal...E um cãozinho amigo, bem peludo; acho até que poderiam ser de par os animais - para que eles não sentissem solidão...
Uma sala bem grande, assim em que coubessem vários ambientes -um canto com lareira com um tapete de carneiro bem quentinho pro inverno. Um canto prá se ler e escrever... uma pequena roda de mármore prá se dançar, uma pequena mesa prá se jantar; um aparelho de som,  prá se colocar  ali tudo de mais lindo que o talento humano  pode produzir para se ouvir, quieto, com amigos, ou só em familia...Bons conhaques, bos licores, uma cadeira de lona daquelas chamadas de "preguiça"...Um ou mais de um pufes de se colocar os pés e deixar circular melhor o sangue...enquanto se ouve as músicas ou simplesmente o coração batendo, ou o silencio da noite...em algum lugar deve caber uma rede bem boa que de prá deitar mais de um...e dormir ou fazer amor...
As luzes devem ser indiretas suaves... aconchegantes...e nas paredes pode-se ter quadros de exercícios de beleza dos amigos...
tem que ter um mapa bem  lindo do nosso planeta, bem desenhado que dê prá se localizar tudo que exite de lugar...Ah! Lá fora, do alto deve ser maravilhoso poder a noite se olhar as estrelas com um bom telescópio... e sonhar...para qual dos lugares ir quando o corpo cumprir a sua exposição  por aqui, e o espírito puder novamente voar...Quem será que se vai encontrar?
Nos quartos deverá caber um bom colchão que poderá ser feito num elevado do chão...não precisa cama... deverá ser grande...suficiente...o tanto que de prá se amar a vontade, deverá ter almofadas de cetim  gostosas ,de cores boas pra se encostar...uns dois ou tres cabides daqueles de pés, onde se colocar as roupas que se usou uma vez...e que talvez se torne a usar...ali em um canto - uma cadeira de balanço...um bom espelho para se ver, se identificar...
Esse morro me provoca coisas que se ve nos filmes que se lê nos livros; ele me dá a senssação de já ter tido isso um dia ou de poder vir a ter...E mesmo que eu acabe não precisando de fato dessa concretização - gosto desse morro e vê-lo me dá uma senssação de peito cheio de oxigênio, de vida cheia de beleza, de silencio , de calma, de vida passando sem ser sentida...
Fatima Mohamed Abrão, Hamburgo Velho,
30 de outubro de 1987.










                                                      

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